Quem administra um supermercado sabe: o lucro não está na etiqueta da gôndola. Ele aparece — ou desaparece — nos detalhes.
Na forma como o estoque gira.
Na escolha do fornecedor.
Na perda invisível da validade vencida.
E, cada vez mais, na forma como os impostos são tratados.
Supermercados faturam alto, sim. Mas operam com margens baixíssimas.
É comum encontrar negócios com margens líquidas abaixo de 3%.
Ou seja: qualquer pequena alteração na carga tributária pode comprometer toda a operação.
E é justamente por isso que a reforma tributária precisa ser acompanhada de perto por quem atua no setor.
Ela não é apenas uma mudança técnica nos bastidores.
Ela pode mexer diretamente no seu preço final, no poder de compra do seu cliente, no seu capital de giro e na sua competitividade.
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| O que muda com o IVA Dual
A reforma tributária está sendo construída em torno de um conceito amplamente utilizado no mundo: o IVA — Imposto sobre Valor Agregado.
No Brasil, ele vai se apresentar na forma do chamado IVA Dual, que combina dois tributos distintos:
CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) – de competência federal, substituindo PIS e Cofins.
IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) – gerido por estados e municípios, substituindo ICMS e ISS.
Na prática, eles substituirão cinco tributos diferentes, tornando o sistema teoricamente mais simples — mas exigindo um novo olhar sobre como os tributos são apurados e pagos.
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| Créditos tributários: o que pode virar vantagem
Na lógica do novo sistema tributário, os créditos tributários serão protagonistas.
Se no modelo atual muitos supermercados simplesmente pagam o imposto e seguem em frente, o cenário que vem aí exige uma mentalidade diferente: todo tributo pago na compra pode virar crédito na venda — se for bem registrado, documentado e processado.
De forma simples: o crédito tributário é o direito de abater, no momento da venda, os impostos que você já pagou nas compras.
| O desafio dos produtos com regimes especiais
Se tem algo que o supermercado conhece bem é a variedade.
São centenas, às vezes milhares de produtos circulando todos os dias. E cada um deles pode ter uma regra tributária diferente, especialmente quando falamos de alimentos, higiene pessoal e produtos da cesta básica.
Com a chegada do IVA Dual, essa complexidade não desaparece — ela muda de forma.
Um dos pontos mais sensíveis da reforma é a definição de alíquotas reduzidas para itens essenciais, como arroz, feijão, leite, ovos, hortifrútis e produtos de higiene.
O governo já anunciou que a nova legislação manterá um tratamento favorecido para esses produtos, mas com uma condição: será necessário classificá-los corretamente, com base no código NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul).
E é aí que mora o risco.
Se o NCM do produto estiver errado na nota fiscal — mesmo que por descuido — o seu supermercado pode:
Perder o direito ao crédito;
Ser tributado com alíquota maior do que a devida;
E até ser autuado em fiscalizações futuras.
Isso acontece porque o novo sistema será mais integrado e automatizado. As inconsistências entre o que você compra e o que você vende serão cruzadas em tempo real.
E erros simples, que antes poderiam passar despercebidos, agora terão impacto imediato.
Será necessário revisar toda a base de cadastro de produtos.
Garantir que todos os itens estejam com NCM atualizado e compatível com a nova legislação.
Estabelecer procedimentos internos para revisão periódica dessas informações, especialmente em fornecedores novos ou produtos pouco usuais.
E, principalmente, será essencial atuar com o suporte de um contador que entenda profundamente do setor supermercadista.
Porque mais do que nunca, a contabilidade deixará de ser um setor de apoio e passará a ser parte do seu núcleo estratégico.
| Split payment e o efeito no caixa
Imagine esta cena: seu cliente faz uma compra no supermercado, paga no cartão, e você recebe apenas uma parte do valor — porque o restante vai direto para o governo.
Não é ficção. Isso tem nome, tem data para começar, e se chama split payment.
O split payment — ou “pagamento dividido” — é um modelo de recolhimento em que a parte do tributo é separada automaticamente no ato da transação.
Ou seja:
Quando o consumidor paga,
A operadora de pagamento já retém a parte correspondente ao imposto,
E transfere diretamente ao governo.
O valor que sobra é o que vai para a conta do supermercado.
Hoje, mesmo com tributos altos, o supermercado recebe o valor bruto e se organiza para pagar os impostos depois, dentro do prazo.
Com o split payment, isso muda: o dinheiro entra com o imposto já descontado.
Isso altera diretamente:
O capital de giro disponível;
O planejamento de pagamentos;
E até a margem de negociação com fornecedores.
Supermercados trabalham com margens muito reduzidas.
Quando a Receita começa a “beber da fonte” antes mesmo do empresário ver o dinheiro, o impacto no caixa pode ser severo — especialmente se o controle financeiro não for preciso.
Vai ser preciso ajustar o planejamento de compras.
Rever prazos com fornecedores.
E, em muitos casos, renegociar formas de pagamento para manter o fluxo saudável.
Além disso, será fundamental que os sistemas de gestão estejam preparados para lidar com essa nova lógica de apuração e recebimento.
Em países onde o split payment já é usado, ele tem benefícios: reduz fraudes, torna o sistema mais transparente e melhora a arrecadação.
Mas exige, em troca, preparo técnico e maturidade de gestão.
Para supermercados, a lição é clara:
não dá mais para trabalhar no limite do caixa, contando com o valor bruto das vendas para equilibrar o dia.
| Como se preparar desde já
A transição para o novo modelo tributário vai acontecer em fases, com início em 2026 e implementação total prevista para 2033.
Mas se engana quem pensa que ainda é cedo para agir.
Na verdade, o supermercado que começar a se preparar agora terá uma vantagem enorme quando as novas regras começarem a valer de verdade.
O primeiro passo é entender que a reforma não será apenas uma troca de códigos tributários.
Ela vai exigir mudanças profundas em três frentes:
1- Gestão fiscal e contábil
2- Processos operacionais
3- Tomada de decisão estratégica
sso significa sair do modo reativo — aquele onde você apenas entrega os documentos para o contador — e assumir um papel mais ativo, de gestor que usa a contabilidade como instrumento de crescimento.
1. Revise seu cadastro de produtos (NCM)
Garanta que cada item está classificado corretamente.
Isso evita erros de tributação e maximiza o aproveitamento de créditos no novo modelo.
2. Converse com o seu contador sobre simulações fiscais
Simule o impacto da CBS e IBS sobre sua operação atual.
Veja se o regime atual continuará vantajoso ou se mudanças farão sentido no futuro.
3. Invista em um bom sistema de gestão (ERP)
O controle de entrada e saída precisa estar alinhado à nova lógica tributária.
Sistemas desatualizados podem gerar erros que comprometem a apuração de créditos e o cumprimento das obrigações.
4. Prepare seu caixa para o split payment
Reavalie seu fluxo de caixa com base na nova realidade de recebimento líquido.
Renegocie prazos com fornecedores pensando na antecipação dos tributos.
Você não precisa implementar tudo agora, nem resolver cada detalhe de uma vez.
Mas precisa colocar o tema na pauta estratégica do seu negócio.
Supermercados que se antecipam não só evitam riscos — mas ganham eficiência, crédito fiscal e competitividade.
| A reforma vai doer — mas pode fortalecer
É fato: a reforma tributária não será indolor.
Principalmente para setores como o varejo alimentar, que têm margens enxutas, grande volume de produtos e uma operação logística complexa.
Supermercados sentirão o impacto.
No caixa.
No sistema.
Nos processos.
Mas também é verdade que toda transformação traz uma oportunidade escondida para quem decide se antecipar.
O maior risco não está no novo modelo em si.
Está na falsa sensação de que “ainda dá tempo” ou que “não vai mudar tanto assim”.
Esperar a virada oficial da chave para começar a agir é o mesmo que tentar mudar a rota com o carro já a 120km/h.
Quem deixar para se adaptar só em 2026 (ou pior, em 2033), pode enfrentar:
Dificuldades técnicas para se ajustar às exigências;
Perda de crédito fiscal por erros operacionais;
Penalidades por não cumprimento das novas normas;
E até queda de competitividade frente a redes que se prepararam com antecedência.
Empresas que tratam a contabilidade como um custo, tendem a sofrer mais.
Já aquelas que veem a contabilidade como um instrumento de inteligência de negócio, saem na frente.
A reforma será também um “filtro de maturidade” no setor supermercadista.
Quem controla bem seus dados, vai pagar menos imposto.
Quem entende o sistema, vai recuperar mais créditos.
Quem investe em estrutura, vai operar com mais fôlego — mesmo em tempos difíceis.
Seu supermercado pode ser um dos muitos que sofrerão com as mudanças.
Ou pode ser um dos poucos que usarão essa transição como alavanca para crescer com mais eficiência e previsibilidade.
Tudo depende da sua postura agora.
O futuro está chegando.
E o melhor momento para começar a se adaptar — é antes que ele bata na porta.
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